Horizonte de Médio Prazo
O Planejamento da Operação Energética, a cada ciclo anual, tem dois produtos básicos. As Funções de Custo Futuro mensais, determinadas pelo modelo de otimização de médio prazo (Newave), permitem o acoplamento das estratégias de operação de médio prazo com as políticas semanais da operação estabelecidas no Programa Mensal de Operação (PMO), utilizando o modelo de curto prazo (Decomp). O segundo produto é o Plano da Operação Energética (PEN), cujo principal objetivo é avaliar as condições de atendimento ao mercado previsto no seu horizonte de estudo. Seus resultados subsidiam o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) e a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) quanto à eventual necessidade de estudos de planejamento da expansão da geração e das interligações regionais, para adequação da oferta de energia aos critérios de garantia de suprimento estabelecidos pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE). Excepcionalmente, em 2014, este estudo foi emitido em outubro.
A energia nova agregada pelos leilões e o acréscimo de novas linhas de transmissão fizeram crescer a oferta de energia no período. A capacidade instalada do SIN deverá elevar-se de 123.098 MW, em 31/12/2013, para 159.420 MW, em 31/12/2018. A hidroeletricidade continuará sendo a principal fonte de geração de energia, embora sua participação se reduza de 74,8% em 2014 para 70,9% no final do horizonte.
Está previsto um significativo crescimento da capacidade instalada em usinas eólicas, que passará de 1,9% da matriz de energia elétrica (2.385 MW em dezembro de 2013) para 8,9%, equivalentes a 11.852 MW instalados ao final de 2018, sem considerar os próximos leilões de energia que poderão agregar nova oferta até dezembro de 2018.
Mais uma vez, destaca-se a mudança de paradigma na forma de operar o SIN, já apontada pelo Operador nos diversos estudos emitidos nos últimos anos, em função dos seguintes aspectos:
É importante destacar que, em função da perda da capacidade de regularização do sistema frente ao crescimento da carga, tem sido cada vez maior a influência das condições iniciais de armazenamento nos resultados dos primeiros dois anos do horizonte de avaliação, impactando as métricas normalmente utilizadas no planejamento da operação energética, como riscos de déficit, valor esperado da energia não suprida e custos marginais de operação.
A situação hidroenergética de 2014 é um claro exemplo da perda de regularização do SIN. As condições climáticas desfavoráveis durante a estação chuvosa não permitiram a recuperação dos estoques armazenados nos reservatórios dos subsistemas Sudeste/Centro-Oeste e Nordeste, mesmo com a plena utilização do parque térmico. Isto resultou em estados iniciais de armazenamento do PEN 2014 bastante inferiores aos normalmente utilizados em edições anteriores do planejamento da operação energética, com reflexos diretos nos riscos de déficit calculados para os primeiros anos do horizonte de estudo. Nesse contexto, é importante uma interpretação cuidadosa dos resultados da análise de desempenho do SIN, principalmente com relação aos riscos de déficit de energia.
Também merece destaque a análise do atendimento da demanda máxima para o cenário de referência do PEN 2014, na qual o balanço de ponta indica que a capacidade líquida disponível prevista no período 2014-2018 é suficiente para o pleno atendimento da demanda instantânea projetada, incluindo a reserva operativa necessária. Não obstante, nesta avaliação observa-se o esgotamento da disponibilidade hidroelétrica nos subsistemas Sudeste/Centro-Oeste, Sul e Nordeste, sendo necessário o uso da disponibilidade de fontes termoelétricas, PCH, biomassa e das eólicas em todo o horizonte de análise.
Além disso, foram identificados congestionamentos na interligação Norte-Sul, em alguns meses do horizonte, não permitindo a transferência dos recursos hidráulicos para os demais subsistemas, ratificando o diagnóstico das avaliações energéticas quanto à necessidade de se reforçar esta interligação.
As principais recomendações do PEN 2014 são listadas a seguir:
Horizonte de Curto Prazo
Considerando o SIN como um todo, 2014 foi um ano abaixo da média histórica, com energias afluentes da ordem de 81% MLT. Analisando os subsistemas separadamente, pode ser notado que o Sul e o Norte apresentaram afluências mais elevadas, da ordem de 144% e 100% das respectivas médias históricas, com valores mais reduzidos nas outras regiões.
Na região Sudeste/Centro-Oeste, o período chuvoso ao final de 2013 teve início regular, em função de uma condição de neutralidade da temperatura da superfície do mar no Oceano Pacífico Equatorial. No entanto, nos meses de janeiro e fevereiro de 2014, a atuação de um sistema de alta pressão inibiu o avanço das frentes frias em direção à região e a configuração das Zonas de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS), contribuindo para a ocorrência de precipitação abaixo da média. Em março e abril, os sistemas meteorológicos passaram a atuar com maior regularidade nessa região, porém a precipitação continuou inferior à média. Desse modo, a região Sudeste/Centro-Oeste fechou o ano com afluências da ordem de 68% MLT, classificando-o como o sexto pior ano do histórico 1931-2014.
No Nordeste, praticamente durante todo o ano prevaleceu um quadro de condições hidrológicas desfavoráveis – 41% MLT nos meses do período chuvoso e 44% MLT nos meses do período seco. A energia afluente anual situou-se em 45% MLT, classificando o ano de 2014 como o pior ano do histórico 1931-2014.
A Tabela 1 apresenta um resumo das condições das afluências em 2014, mostrando que estas foram piores exatamente nos subsistemas onde há reservatórios com maior capacidade de armazenamento de energia.
Tabela 1 – Capacidade de Armazenamento e Energia Afluente por Subsistema
Além de ser caracterizado como um ano de baixas afluências especialmente nas regiões Sudeste/Centro-Oeste e Nordeste, 2014 foi um ano extremamente adverso para algumas bacias hidrográficas onde estão localizados os reservatórios com maior capacidade de regularização do SIN, como mostrado na Tabela 2.
Tabela 2 – Armazenamento e Energia Afluente por Bacia
Em função destas reduzidas afluências, os níveis de armazenamento dos reservatórios dos subsistemas sofreram significativas reduções em 2014, chegando ao fim do ano com valores inferiores aos registrados no ano anterior, conforme a Tabela 3 a seguir.
Tabela 3 – Energia Armazenada por Subsistema
Subsistemas Energia armazenada - EAR (% da EAR máxima)
Essa delicada conjugação de baixas afluências e níveis de armazenamento reduzidos nos principais reservatórios do SIN exigiu do ONS na elaboração dos Programas Mensais de Operação e suas revisões semanais o cuidadoso gerenciamento dos recursos hidroenergéticos disponíveis, com a implantação de medidas operativas dentre as quais destacam-se a preservação dos armazenamentos dos reservatórios de cabeceira das principais bacias hidrográficas, o despacho pleno da disponibilidade das usinas termelétricas e o uso da capacidade de transmissão de energia para realizar transferências das regiões com maiores disponibilidades energéticas, Norte e Sul, para as em piores condições, Nordeste e Sudeste/Centro-Oeste.
Além disso, teve grande importância para a garantia do atendimento eletroenergético em 2014 a flexibilização de algumas das principais restrições hidráulicas do SIN, que resultou da articulação e trabalho conjunto entre o ONS, as agências reguladoras ANA e ANEEL, o IBAMA, o MME, o MMA, os comitês de bacias e os agentes setoriais, para compatibilizar os requisitos energéticos com aqueles associados aos usos múltiplos da água, com destaque para: