ONS PROPÕE NOVOS CRITÉRIOS OPERATIVOS E ELEVA NÍVEIS DE TRANSFERÊNCIA DE ENERGIA ENTRE AS REGIÕES


Adoção de medidas excepcionais permitirão ampliar o uso de energia renovável com ganho potencial de transferência de até 2.850 MW

 

O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), em atendimento à solicitação da Câmara de Regras Excepcionais para Gestão Hidroenergética (CREG), e como forma de dar andamento às ações com vistas ao aumento das disponibilidades energéticas, publicou hoje, dia 20 de agosto, Nota Técnica contendo novos critérios operativos para garantir a máxima capacidade de transferência de energia entre os subsistemas. Essa alteração permitirá o melhor aproveitamento dos recursos energéticos disponíveis no Sistema Interligado Nacional (SIN).

No horizonte de curto prazo, a forma de aumentar a capacidade de transferência entre regiões se dá por meio da adoção de critérios operativos mais flexíveis, ou seja, passar do atual critério de confiabilidade que considera a proteção do SIN contra perdas duplas de linhas de transmissão (N-2) para o critério que considera apenas a proteção face a perdas simples (N-1). Uma das conclusões do documento é de que a medida – flexibilização do atual critério N-2 para o critério N-1 para algumas linhas de transmissão - permitirá a elevação dos limites nas interligações das regiões Norte/Nordeste para o Sul/Sudeste/Centro-Oeste, com ganho potencial de transferência de energia de até 2.850 MW.

Como vem demonstrando os estudos prospectivos do ONS, há a possibilidade dos reservatórios atingirem, até o fim do período seco, em novembro, níveis de armazenamento nas regiões Sul e Sudeste/Centro-Oeste muito reduzidos, mesmo considerando todas as ações excepcionais já adotadas para o enfrentamento da crise hídrica. Com a medida proposta pelo ONS, será possível alocar os excedentes de produção do Norte e do Nordeste nos reservatórios do Sul, permitindo a sua utilização nos momentos de carga elevada que historicamente acontecem a partir do mês de setembro.

Para que se avalie o benefício esperado, um exercício de aplicação de critérios de confiabilidade diferenciados na programação do dia 21/07/2021 mostrou a possibilidade da transferência adicional de cerca de 2.000 MWmed do Norte e do Nordeste. Este montante poderia ser alocado nos reservatórios do Sul, representando uma recuperação de cerca de 10% no armazenamento desse subsistema.

A flexibilização dos critérios operativos, no entanto, reduz a capacidade do SIN em suportar contingências duplas de linhas de transmissão, sendo os casos de maior relevância associados às perdas duplas das LT 500 kV Tucuruí-Xingu C1 e C2, dos bipolos Xingu-Estreito e Xingu-Terminal Rio. Já de forma preventiva, o Operador vem atuando junto às transmissoras envolvidas, desenvolvendo uma série de ações que contribuem para minimizar o impacto dessas medidas.

Na Nota Técnica, o Operador destaca ainda que, com relação à avaliação estatística de desligamentos, há a necessidade de uma gestão específica visando à mitigação de desligamentos por 'queimadas', especialmente para alguns circuitos em 500 kV e para os dois bipolos de Belo Monte, principalmente entre agosto e outubro. Quanto ao desempenho dos sistemas de proteção e controle, o ONS vem atuando junto às transmissoras para corrigir, no curto prazo, potenciais problemas e mitigando ocorrências por atuação indevida de proteção.

O documento indica ainda os ganhos de curto prazo para o setor elétrico brasileiro que são, particularmente, importantes no atual contexto para resguardar todos os reservatórios e garantir que não haja suspensão do suprimento elétrico. Vale destacar, no entanto, que os novos critérios são temporários e, assim que a situação normalizar, os procedimentos voltarão a ser aplicados sem as flexibilizações.

É importante ressaltar também que o ONS adequará os limites de transferência de energia sempre que for identificada a necessidade de redução desses valores, ou percebida a oportunidade de ganhos nos limites sem elevação do nível de risco.  Por sua vez, caso o aumento de intercâmbio, em virtude de algum cenário específico, acarretar aumento do nível de criticidade, a implementação dessa mudança se dará após anuência do Comitê de Monitoramento do Setor Elétricos (CMSE).

Para entender o conceito:

Os chamados critérios (N-1) e (N-2) estão associados à resposta do sistema quando se verifica uma perturbação na rede, o desligamento de uma linha, por exemplo. Essencialmente, eles definem qual o grau de proteção que se quer dar ao sistema, a perda de um elemento da rede (N-1) ou de dois (N-2). O critério básico de dimensionamento e de operação do SIN é o N-1. Todavia, para algumas partes do sistema, especialmente aquelas que compõem interligações entre sistemas, é utilizado o critério (N-2). A medida vem sendo implementada de forma conservadora para minimizar o impacto na segurança da operação do SIN. 

Confira a nota técnica n​​a íntegra aqui.